Chegou a santa Quaresma!
Caríssimo Leitor, chegou, mais uma vez, o santo tempo da Quaresma! Como você já sabe, é o tempo sagrado de preparação para celebrar de modo verdadeiro, digno e frutuoso a Santa Páscoa. Nos sagrados dias pascais, ouviremos na santa Liturgia a exortação do Apóstolo: “Purificai-vos do velho fermento para serdes nova massa, já que sois sem fermento. Pois nossa Páscoa, Cristo, foi imolada. Celebremos, portanto, a Festa, não com o velho fermento, nem com o fermento da malícia e perversidade, mas com pães ázimos: na pureza e na verdade” (1Cor 5,7s). Eis, pois: é a Quaresma, o tempo que a atiquíssima tradição da Igreja preparou para que nos deixemos purificar pelo Senhor que converte o nosso coração, jogando fora o fermento do pecado, tornando-nos nós mesmos pães ázimos, aqueles mesmos pães que se tornam hóstias, Corpo do Senhor, Páscoa imolada, isto é, Cordeiro pascal sacrificado!
Está em crise na consciência do homem hodierno a consciência do pecado. É lógico: à medida em que o próprio homem vai se constituindo senhor de si mesmo, tendo como referência somente a si próprio, ignorando a Deus, de quem viemos, em quem vivemos e para quem vamos, vai também deixando de s e ver e se avaliar à luz daquele que é a única luz absoluta, a única medida definitiva do homem: Deus nosso Senhor, Deus como se revelou de modo definitivo e total em Jesus Cristo. Por isso mesmo a Escritura adverte: “Se dissermos: ‘Não temos pecado’, enganamo-nos a nós mesmos e a verdade não está em nosso meio” (1Jo 1,8). Esta crise na consciência do pecado, sobretudo o pecado pessoal, o “meu” pecado, é muito visível também na Igreja de nossos dias. Isto porque se fala muito do homem e pouco de Deus; muito dos nossos projetos e pouco da graça salvífica oferecida de modo gratuito, soberano e amoroso por Deus em Cristo. Vivemos numa época em que muitos cristãos – sobretudo os “doutos” – movem-se mais pelas ideologias que pela Palavra de Deus soberana e gratuita, que é Jesus Cristo, presente nas Escrituras e na Tradição da Igreja.
Aproveitemos, meu Caro, este sagrado tempo de Quaresma! É um tempo muito propício para retomarmos a consciência de que somos o Povo de Deus, povo escolhido sem nenhum merecimento nosso, povo congregado pelo sangue de Cristo, povo que caminha no mundo sem ser do mundo, dando testemunho e sendo já presença misteriosa do Reino eterno. As leituras da liturgia colocam diante de nós o Israel da Antiga Aliança para que, contemplando sua história sagrada, aprendamos de onde viemos e quem somos: “Ora, esses fatos aconteceram para nos servir de exemplo, a fim de que não cobicemos coisas más, como eles cobiçaram. Não vos torneis idólatras, como alguns dentre eles, segundo está escrito: O povo sentou-se para comer e beber; depois levantaram-se para se divertir. Nem nos entreguemos à fornicação, como alguns deles se entregaram, de modo a perecerem num só dia vinte e três mil. Não tentemos o Senhor, como alguns deles o tentaram, de modo a morrer pelas serpentes. Não murmureis, como alguns deles murmuraram, de modo que pereceram pelo Exterminador. Estas coisas lhes aconteceram para servir de exemplo e foram escritas para a nossa instrução” (1Cor 10,6-11). Pois bem, meditando nas vicissitudes do Israel segundo a carne, nós, o Israel segundo o Espírito do Ressuscitado, cuidemos de reconhecer sinceramente nosso pecado, nossa infidelidade, nossa pouca fé, nossos titubeios, seja pessoalmente seja como comunidade eclesial; procuremos combater nossos vícios, procuremos voltar para o Senhor pela prática mais intensa e generosa da oração, pela abstinência de certos alimentos em todo o período quaresmal, pela mortificação de nossos sentidos, tirando algo do divertimento, do que nos é atrativo, pala leitura piedosa e perseverante da Sagrada Escritura, pela prática da esmola como caridade fraterna, sobretudo para com os pobres, doentes, desvalidos, os pisados pela vida, os marginalizados, os que caíram e não têm mais coragem de se levantar, os que se encontram em situações de miséria espiritual ou material. Procuremos as boas leituras e deixemos a superficialidade e vulgaridade dos programas de televisão e de certas músicas. Finalmente, procuremos o sacramento da Penitência e confessemos nossos pecados!
Acolhamos o pregão que a Liturgia nos ecoa na antífona da Oração das Nove Horas: “Chegou o tempo de penitência, de conversão e de salvação”. Para você, querido Leitor meu, uma santa e frutuosa Quaresma!
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