Mais uma vez a sociedade esquece-se de seus próprios problemas para poder acompanhar, consternada, o resultado de mais de 100 horas de um episódio triste, tendo como protagonista um jovem que fez sua ex-namorada refém, juntamente com sua amiga. Duas adolescentes na mira de um jovem sem sentido, sem certeza daquilo que deseja.
Inegavelmente que o episódio foi o resultado de uma vida sem objetivos para Lindemberg e que este fato ficará marcado na mente de seus vizinhos e dos familiares das famílias envovidas...
Mas o que me chama atenção, assim como coloquei numa outra oportunidade (refletindo sobre o Caso da menina Nardoni), é como temos facilidade em esquecer alguns fatos que estão nos cercando...
Vivemos num país de esquecidos...
Esquecemos
... dos outros tantos jovens que morreram nestas mesmas 100 horas em todo o Brasil.
... dos prefeitos e vereadores eleitos que estão respondendo a processos (alguns inclusive estão presos).
... da “crise” financeira que está assustando o mundo, apesar do nosso Presidente e seu Vice dizerem que o Brasil é forte.
... de todos os meninos e meninas que estão nas ruas de nossas cidades, sem escola, sem vida digna, sem direitos, apesar da lei estar no papel.
Como curioso dos aspectos sociais da nossa vida fico pensando nos pressupostos de Balman e de Castells, que apontam uma modernidade líquida numa vivência de relações fixadas em pouco ou nenhum sentimento, na busca de sentido e conectadas por um fio muito tênue.
Como todos os brasileiros também ficam pensando se fosse com minha própria família, e me solidarizo com as famílias das vítimas deste caso e de tantos outros que aconteceram esta semana.
Mas como estudioso fico pensando até quando iremos ficar grudados na telinha, presos pelos apelos emotivos de cada emissora, esquecendo de tudo o que está acontecendo ao nosso redor...
Um comentário:
São muitas as coisas hoje que exigem a nossa comoção. Desta forma, a mídia decide por nós. E nesta semana ela escolheu que ficaremos tocados especificamente por este caso. Mas se os acontecimentos não apontassem para um possível homicídio, briga de casal, uma madrasta má, um pai descuidado, seríamos prontamente convidados a esquecê-los e brindados com a nova 'tragédia da semana'. Jornalistas dizem que isso é notícia que vende - a tragédia - pois é o que o povo quer ver e saber.
Não é o que realmente queremos saber, é? Não? Então porque continuam vendendo tão bem os jornais nessas horas?
Aonde estão aquelas milhares de pessoas de branco que lotam as passeatas pela paz nas grandes capitais? E as milhões que se aglomeram nas missas do Pe. Marcelo em Interlagos? Se somos realmente a maioria - nós, os defensores da paz - a possibilidade de um incidente deste tipo deveria ser mínima. Mas sabemos que é a rotina. Não somos maioria, então. Ou não pertencemos de fato à minoria a qual propagamos pertencer. Isto faz toda a diferença.
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