PLE – Ambientes Pessoais de Aprendizagem
February 27, 2010. Author: Paulo Simões (http://www.pgsimoes.net/blog/)
Para se compreender o conceito de PLE – Personal Learning Environment/Ambiente Pessoal de Aprendizagem é necessário fazer referência a dois conceitos essenciais que constituem a essência e, há volta dos quais, gira a necessidade da criação de um espaço de aprendizagem controlado pelo utilizador: Aprendizagem ao longo da vida e Aprendizagem Informal. Foi em grande parte devido à dificuldade do indivíduo se organizar na rede que surge a necessidade a designação de PLE.
Longe de estar organizada, a Internet tornou-se complexa. Os utilizadores saltam de serviço em serviço, criando e descartando novas identidades. Um utilizador típico da web pode ter várias páginas pessoais – o blog pessoal, a sua página de fotos, a conta no Google Reader, documentos partilhados, os vídeos no YouTube, a sua conta no Twitter, os seus perfis nas redes sociais, as suas contas de email ou o seu “login” no LMS da universidade (Downes, 2009).
McCall afirma que devemos considerar os aprendentes não são como sujeitos da aprendizagem, entidades a quem entregamos conteúdo, mas também como fontes da aprendizagem, (como citado em Downes, 2009). Segundo Attwell (2007a) o PLE reconhece que a aprendizagem é um acto contínuo e que procura encontrar ferramentas que a suportem. Reconhece o papel do indivíduo na aprendizagem e toma como garantido que ela acontece em diferentes contextos e situações.
Por outro lado, o PLE serve a aprendizagem informal, na medida em que possibilita o acesso à tecnologia educativa a todos os que pretendam organizar o seu próprio espaço pessoal de aprendizagem.
The idea of the PLE purports to include and bring together all learning, including informal learning, workplace learning, learning from the home, learning driven by problem solving and learning motivated by personal interest as well as learning through engagement in formal educational programmes. (Attwell, 2007b)
No entanto, um PLE não é só visto de forma conceptual. Outros autores defendem que os PLE são sistemas que ajudam os aprendentes a tomar o controlo e gestão da sua própria aprendizagem através da definição das suas metas próprias metas de aprendizagem, gerindo os conteúdos e os processos e, finalmente, estabelecendo comunicação com outros processos de aprendizagem, (Harmelen, 2007) tendo por suporte quer a sua área de trabalho no seu computador pessoal quer mais do que um serviço da web.
Tendo em conta a diversidade de opiniões, reflexo em grande medida da novidade conceito (LTC – Learning Technologies Center, 2008), também as definições de PLE variam nessa proporção. Algumas sugerem que os princípios dos PLEs podem ser apresentados através de um software, enquanto outras sugerem que um PLE deve ser entendido enquanto conceito e não como uma ferramenta específica.
Sendo um PLE composto por todas as diferentes ferramentas que usamos diariamente para aprender (Attwell, 2007a), a pedagogia que lhe está subjacente possibilita traduzir o PLE num portal aberto por onde os aprendentes podem explorar e criar, tendo em conta os seus interesses pessoais, interagindo com quem quiserem, nomeadamente amigos ou com a comunidade de aprendizagem. Anteriormente, Lubensky (2006) já se tinha referido ao PLE como uma possibilidade que o individuo possui para aceder, agregar, configurar e manipular artefactos digitais durante as suas experiências de aprendizagem.
Por outro lado, do ponto de vista de institucional, por exemplo, aplicado a uma universidade, um PLE designa uma abordagem das tecnologias de comunicação e informação, com influências da Web2.0, aplicada ao ensino que permite aos aprendentes, controlar a sua área de aprendizagem pela personalização dos objectos de aprendizagem que são disponibilizados em repositórios centrais de informação (Casanova, 2009).
Sendo um termo recente, PLE tem sido, por um lado, confundido com termos já existentes há algum tempo, como por exemplo, LMS (Learning Management Systems), vulgo Sistemas de Gestão da Aprendizagem, como é o caso do MOODLE e, por outro, associado a novos termos que vão surgindo para tentar descrever conceitos muito parecidos.
Se em relação aos LMS é possível estabelecer diferenças evidentes dado que são sistemas que disponibilizam quer ferramentas de comunicação (essencialmente fóruns de discussão e salas de chat) quer conteúdos (Santos, 2009), baseados num porta de entrada institucional e que obrigam o aprendente a aceder por uma única entrada a um curso online, já um PLE é um ambiente cujo foco é dado ao controlo que os aprendentes têm sobre o que aprendem (Leslie, 2008).
Reconhecendo que se utiliza determinada terminologia em diferentes e ambíguas formas, o termo VLE (Virtual Learning Environment) é normalmente usado para referir os vários tipos de interacções online que têm lugar entre aprendentes e tutores (Clifford, 2009). Mas é no entanto Attwell (2008) que nos dá uma explicação bastante prática da relação entre PLE, PLN (Personal Learning Environment), VLE e e-Portfolios:
What distinguishes PLEs from VLEs, e-Portfolios, or from classroom and lecture based learning for that matter, is that it brings together informal and formal learning. It recognizes the primacy of the learner on driving and developing their learning. And – in terms of tools – it provides them the means to organize their own learning.I don’t really mind what we call them. What is critical is that a PLE / PLN helps us in organizing our learning and helps us make the connections with those with whom we want to collaborate and share, whoever, wherever they are. (Attwell, 2008)
Como já foi referido a discussão sobre os PLEs é recente. Ainda muito caminho está por explorar, mas já é possível assinalar alguns aspectos consensuais e que nos ajudarão a construir uma visão comum do conceito.
É possível enunciar, segundo Attwell e Costa (2008), uma lista de possíveis funções de um PLE, por exemplo: aceder/procurar informação e conhecimento; agregar combinando informação e conhecimento; manipular, rearranjar e reformatar artefactos tecnológicos; analisar informação para desenvolver conhecimento; reflectir, questionar, desafiar, procurar clarificar, formar e defender opiniões; apresentar ideias, aprender e conhecer de diferentes maneiras e para objectivos diversificados; ligar em rede criando um ambiente colaborativo de aprendizagem.
Anteriormente, Attwell já tinha referido que um PLE pode estimular o desenvolvimento de novas formas de pedagogia, mas que no entanto, isoladamente não representa uma nova forma de ensinar e aprender, podendo, no entanto, melhorar as práticas existentes. Os PLE, por si só não conseguem transformar os sistemas de educação e as respectivas práticas. (Attwell, 2007a)
Por outro lado o sucesso dos PLEs dependem, segundo Lubensky (2006), da:
1.Facilidade com os quais podem ser implementados e usados pelos aprendentes;
2.Interoperabilidade;
3.Confiança que os aprendentes e os administradores institucionais tenham com eles.
Quando integrados numa instituição de ensino/formação, como no caso do National Research Council, dos EUA, os PLE’s são decompostos em quatro grande áreas: agregar, quer dizer, recolher conteúdos de vários indivíduos e de outros de serviços de partilha de conteúdos; misturar, ou seja, organizar conteúdos de diversas fontes em diferentes direcções; reconverter, ou editar, localizar ou de alguma forma modificar ou criar novos conteúdos; e re-enviar ou enviar os conteúdos para os subscritores ou para outros serviços da web, via RSS, sindicação, email, Twitter ou outros serviços (Downes, 2009). As instituições usam-nos para potenciar formação formal e informal, por exemplo, através do uso de blogs, da plataforma Elgg ou de ligações com LMS’s como o Moodle. (Attwell, 2007a). Em Portugal é de destacar o Projecto Sapo Campus da Universidade de Aveiro que contém serviços de base disponibilizados pela instituição e uma plataforma integrada, que serve os indivíduos da comunidade (Santos, 2009) que se prevê que esteja em funcionamento no próximo ano lectivo de 2009/2010.
Em jeito de conclusão podemos afirmar que quer se tome um PLE como um software ou como mera organização pessoal do espaço de aprendizagem, parece consensual que todo o género de aprendizagem, formal, informal ou ao longo da vida, carece de alguma forma lógica organizativa pessoal que de alguma forma estará consubstanciada num PLE. Se a aprendizagem formal se tem constituído como importante veículo de aprendizagem, parece que finalmente se começa a valorizar outras fontes. A aprendizagem informal é valorizada e o PLE consegue juntar conteúdos formais e informais, a partir de casa ou do trabalho (Attwell & Costa, 2008).
Pessoalmente, tendo em conta o explicitado neste trabalho, concordo com Attwell (2007a), ao referir que um PLE não é uma aplicação, mas antes uma nova aproximação ao uso da novas tecnologias na aprendizagem. O argumento para a sua utilização não é técnico mas sim filosófico, ético e pedagógico. Um PLE proporciona ao aprendente um espaço pessoal sob seu controlo que
possibilita o desenvolvimento e partilha das suas opiniões.
Referências
Attwell, G. (2007a). The Personal Learning Environments – the future of eLearning ? elearning Papers , Vol.2 (N.1), 1-8.
Attwell, G. (2007b). Web 2.0, Personal Learning Environments and the Future of Schooling. (U. O. Catalunia, Ed.) Acedido em 6 de Julho de 2009, de Cátedra UNESCO de E-learning: http://unescochair.blogs.uoc.edu/05102007/web-20-personal-learning-environments-and-thefuture-of-schooling/
Attwell, G., & Costa, C. (2008). Integrating personal learning and working environments. Acedido
em 4 de Julho de 2009, de Pontydysgu – Bridge to learning: http://www.pontydysgu.org/2008/11/integrating-personal-learning-and-workingenvironments/
Casanova, D. (2009). Conceptualização de um Personal Academic Environment (PAE). Challenges 2009 – VI Conferência Internacional de TIC na Educação (pp. 109-120). Braga: Universidade do Minho.
Clifford, L. (2009). Briefing paper 1: MLEs and VLEs explained. (JISC, Ed.) Acedido em 06 de Julho de 2009, JISC: http://www.jisc.ac.uk/whatwedo/programmes/buildmlehefe/lifelonglearning/mlebriefingpack/1.aspx
Downes, S. (2008). Stages of PLN Adoption. Acedido em 6 de Julho de 2009, OLDaily: http://www.downes.ca/post/44061
Downes, S. (2009). New Technology Supporting Informal Learning. Challenges 2009 – VI Conferência Internacional de TIC na Educação (pp. 15-29). Braga: Universidade do Minho.
Harmelen, M. v. (2006). Personal Learning Environments. Sixth International Conference on Advanced Learning Technologies (ICALT’06). Kerkrade.
Harmelen, M. v. (2007). Personal Learning Environments. Acedido em 06 de Julho de 2009, Personal Learning Environments:
http://octette.cs.man.ac.uk/jitt/index.php/Personal_Learning_Environments
Leslie, S. (2008). Hunting the Wily “PLE”. Acedido em 06 de Julho de 2009, WCET: http://www.wcet.info/2.0/index.php?q=node/1033
LTC – Learning Technologies Center. (2008). PLE. Acedido em 4 de Julho de 2009, PLE – Wiki: http://ltc.umanitoba.ca/wiki/index.php?title=Ple
Lubensky, R. (18 de Dezembro de 2006). The present and future of Personal Learning Environments (PLE). Acedido em 02 de Julho de 2009, Deliberations: http://www.deliberations.com.au/2006/12/present-and-future-of-personal-learning.html
Santos, C. (2009). Sapo Campus – Plataforma Integrada de Serviços Web2.0 para Educação. Challenges 2009 – VI Conferência Internacional de TIC na Educação (pp. 34-48). Braga: Universidade do Minho.