Este texto pode ser usado para fins educacionais, dando os créditos a fonte e autor, e informado em que evento ou situação foi utilizado.
Fernando Pimentel
Queridos amigos de plantão, estou disponibilizando aqui o texto que proferi na Colação de Grau de Pedagogia, em agosto de 2005... Uma reflexão sobre um exemplo de Pedagogia humanista.
Ilustríssimos integrantes da mesa. Queridos formandos e formandas. Queridos familiares e convidados. Senhoras e senhores.
Esta noite tem um brilho todo especial. Esta noite tem um brilho de conquista, de gratidão, de realização e de novos sonhos.
Conquistamos uma parcela de nossas vidas. Conquistamos o que muitos, neste imenso Brasil, nem se quer sonham. Conquistamos o que as estatísticas provam ser restrito a um grupo seleto da população. Chegamos à conclusão do Curso Superior.
Mas esta conquista não se daria se não estivessem ao nosso lado tantas e tantas pessoas. Seus exemplos, seus testemunhos, o incentivo e a paciência neste período de formação foram tão especiais que só transpiramos gratidão. E aqui não caberiam palavras para tanto agradecer, e nenhuma lista de nomes seria fiel. Saibam todos que lhes somos gratos.
Conquistar a conclusão do Curso Superior é uma realização que ultrapassa até mesmo aquilo que cada um pensava da graduação lá no primeiro dia na faculdade, quando chegávamos em meio a ansiedade e atentos a tudo o que se passava ao nosso redor. Alguns traziam muitos sonhos, outros traziam esperanças... todos traziam seus corações abertos a aquilo que já faz tanta falta: o companheirismo e a amizade que foram tecidas nas salas, nos corredores e até mesmo nas caronas de volta para casa, após uma noite de aula.
Agora, num misto de alívio e satisfação, novos sonhos brotam e cada um já vislumbra novos horizontes, onde paradigmas serão quebrados e a garra e a determinação que nos acompanharam no Ensino Superior serão mais que necessárias.
Numa noite de tanto brilho, de tantos flashes, o que teria eu para dizer a estes formandos – e aqui também me incluo – que são e serão responsáveis pela educação, uma das dimensões da humanidade tão especial e necessária para a manutenção e para a resignificação da própria humanidade e da nossa história.
Poderia aqui utilizar citações de grandes nomes que fizeram parte de nossos sonhos e de nossos pesadelos no percurso da nossa vida acadêmica. Poderia aqui citar Vigotsky, Freinet, Piaget, Montessori, Selma Garrido, Pestalozzi, Emília Ferreiro, Decroly, Gardner ou Paulo Freire, um nordestino obstinado e corajoso que tantas vezes foi alvo de nossos estudos e discussões.
Mas quando estava tentando elaborar estas poucas palavras, relembrei tantas coisas e uma saltou forte em minha memória.
Certa vez eu estava conversando com uma amiga pedagoga, companheira de trabalho e de educação que estava concluindo sua pós-graduação em Ensino Religioso. Na redação do seu trabalho final ela e um outro companheiro fizeram a relação entre as postulações de Paulo Freire e a história dos Discípulos de Emaús – do Evangelho de Lucas.
Lembro-me quando ela me contou um fato interessante... Mostrando uma prévia do texto para a professora orientadora, a professora lhe disse: “É, estou vendo que Jesus era muito freiriano...!” Ao que minha amiga prontamente lhe respondeu: “Não, Paulo Freire é que foi um bom cristão!”.
Tendo então esta história como iluminação, gostaria de aproveitar aqui este momento para convocar cada um, principalmente nós formandos, a trilhar os caminhos do Mestre Jesus e de sua Pedagogia. E gostaria de frisar que isso não é direcionado para quem deseja ou é professor de Ensino Religioso. Isso vale para quem educa da Educação Infantil ao Ensino Superior e todas as pós-graduações.
Passamos tantas noites discutindo as teorias pedagógicas e só hoje, talvez, é que nos deparamos com a única Pedagogia que visa a libertação total do ser humano e sua integração com o cosmo e com o Transcendente.
Mas, que metodologia utilizou Jesus? Em que consiste esta Pedagogia de Jesus?
Inicialmente, Jesus tinha sempre em mente seu objetivo de vida: a Salvação dos homens, dizer da grande realidade amorosa de Deus por cada um de nós.
E nós, qual o nosso objetivo como Pedagogos? Qual o nosso objetivo de vida? Será que estaríamos dispostos a levar conosco esta missão de sermos missionários do amor de Deus pelo mundo da educação?
Para realizar sua missão Jesus fez algo que para muitos é estranho e misterioso. O Evangelista João resume com a seguinte frase: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós”. Ou seja, ele assumiu a condição humana, ele se fez um de nós.
Para educar verdadeiramente, cada um de nós precisará encarnar-se na realidade da cada educando, assim como o Cristo. Somente entendendo a vida de cada um de nossos educandos é que poderemos ajudá-los no processo de construção e reconstrução do conhecimento.
Jesus, como Mestre dos mestres, pregava o que vivia e vivia o que pregava. Ele se utilizava das palavras e de suas ações.
Um bom educador é aquele que fala de sua própria vivência. Um bom educador, à luz de Cristo, é aquele que sabe o que está falando e é coerente em sua vida com os valores que anuncia aos seus alunos.
Jesus ensinava com autoridade e sua autoridade estava baseada simplesmente em sua coerência de vida.
E a nossa autoridade, de onde ela provém?
Jesus foi um mestre itinerante. Ela não tinha um lugar fixo para ensinar. Podia ser uma sinagoga, podia ser um monte ou até mesmo um barco ancorado às margens de um lago.
Nós muitas vezes fazemos muitas exigências para educarmos. Desejamos – e isso é positivo – o melhor para a educação. Mas tenhamos a coragem e a ousadia de Jesus! Não fiquemos presos às burocracias. Não sejamos educadores de salas. Sejamos educadores sempre! Tenhamos a coragem e a ousadia de Cristo para disseminar as sementes do saber, ou somente para inquietarmos as pessoas.
Concluindo esta breve convocação e minhas palavras em nome da turma de Pedagogia, gostaria de relembrar que Jesus nunca trabalhou sozinho. Jesus formou uma “comunidade educacional”.
Jesus quis necessitar dos discípulos para que a Boa Nova fosse disseminada. Ele poderia fazer diferente? Com certeza, mas quis partilhar com os discípulos esta missão.
Nós também precisamos educar em parceria, também precisamos educar por meio de uma “comunidade educacional”. É interessante como muitos acham que sua autoridade está em não dividir ou compartilhar daquilo que sabe. Jesus, ao contrário, disse que seus discípulos fariam obras maiores que as suas... Desejemos também que nosso educandos possam ir além do cada um de nós!
Que estes pequenos traços da Pedagogia de Jesus possam ser norteadores do nosso fazer educativo. Não é uma opção. É uma diretriz para quem deseja realmente ser EDUCADOR.
Senhoras e senhores, nosso muito obrigado. E que Deus nos abençoe sempre!