sexta-feira, 7 de novembro de 2025

Educação Híbrida: um ecossistema educativo dinâmico e participativo

Para iniciar um estudo aprofundado sobre educação híbrida, é fundamental esclarecer que esse conceito vai muito além da mera combinação entre o ensino presencial e o ensino a distância. Diante das rápidas transformações tecnológicas e culturais que impactam a educação, torna-se imprescindível compreender a educação híbrida como um ecossistema educativo complexo, que integra espaços, tempos, metodologias e tecnologias em um sistema dinâmico e colaborativo. Além disso, é essencial explorar a evolução das práticas pedagógicas, destacando a transição das metodologias ativas, centradas no protagonismo individual do estudante, para metodologias participativas que enfatizam a construção coletiva do conhecimento e a participação ativa de todos os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem. Esse aprofundamento permite não apenas o entendimento teórico do tema, mas também orienta a implementação eficaz de políticas públicas e práticas educativas inovadoras, alinhadas às demandas contemporâneas por flexibilidade, inclusão e engajamento.

A educação híbrida emerge como uma proposta inovadora que ultrapassa a simples junção entre ensino presencial e ensino à distância mediado por tecnologias digitais. Trata-se de um ecossistema educativo multifacetado que integra espaços, tempos, metodologias e tecnologias, configurando-se como um ambiente pedagógico dinâmico, flexível e contextualizado.

Na Rede de Inovação para a Educação Híbrida (RIEH), educação híbrida é a combinação e integração planejada de atividades presenciais e não presenciais mediadas por tecnologias digitais, com o intuito de ampliar os tempos e espaços educativos sem perder o protagonismo discente (Brasil, 2024; Lima, 2024). Essa definição, que também defendo, evidencia que a educação híbrida é mais que um modelo de ensino; é um ecossistema educativo em que diferentes ambientes (presencial, virtual, cultural, ambiental) e métodos se articulam para promover experiências de aprendizagem contínuas e significativas.

Importante destacar que a educação híbrida não se reduz ao ensino online combinado ao presencial, conforme Graham (2006). Ela envolve inovação na organização curricular e pedagógica, ampliando a flexibilidade para que estudantes aprendam conforme seus ritmos e estilos (Horn; Staker, 2015), e promovendo processos de ensino-aprendizagem que conectam saberes, práticas e tecnologias em redes colaborativas (Siemens, 2004).


O ecossistema de educação híbrida é composto por infraestrutura física e tecnológica, ambientes virtuais de aprendizagem (AVA), repositórios digitais, laboratórios e núcleos de inovação que conectam os atores educacionais em uma rede integrada. As tecnologias digitais não são instrumentos meramente utilitários, mas parte do ambiente cultural e social que influencia e é influenciado pelos processos educativos (Castells, 2003). Assim, a cultura digital e a inteligência artificial passam a ser elementos centrais para construir práticas pedagógicas inovadoras, inclusivas e democratizadoras.

Nesse sentido, um outro conceito deve ser revisto. Historicamente, as metodologias ativas surgiram para reposicionar o estudante como protagonista do aprendizado, estimulando-o a ser agente na construção do conhecimento por meio de práticas como a aprendizagem baseada em projetos, resolução de problemas e discussões em grupo. Essas metodologias, apesar de associarem-se ao uso de tecnologias, são baseadas principalmente no engajamento e na construção ativa do saber.

Entretanto, no contexto da educação híbrida, observa-se uma progressão para metodologias participativas, que ampliam o foco do estudante individual para a participação coletiva e o compartilhamento colaborativo na prática social (Araújo, 2018). As metodologias participativas fundamentam-se em quatro pilares: participação, compartilhamento, colaboração e cooperação, promovendo a construção de conhecimento em ambientes de interação entre professores e estudantes que atuam juntos como mediadores, organizadores e agentes da construção do processo educativo (Lima, 2024). Esta abordagem valoriza a relação entre os saberes escolares e as práticas sociais, reforçando uma educação inserida em contextos socioculturais reais.

Como podemos ver, a implementação da educação híbrida requer, além da infraestrutura tecnológica e do acesso à internet, uma formação tecno-pedagógica especializada que prepare docentes e gestores para lidar com a complexidade do ecossistema híbrido (Ferreira; Pimentel, 2023). A gestão educacional deve contemplar políticas públicas que assegurem a inclusão digital, garantam a flexibilização de espaços e tempos e fomentem a participação efetiva dos sujeitos do processo educativo.

O principal desafio é manter o engajamento e a interação contínua dos participantes, requisito fundamental para que a educação híbrida seja eficaz (Pimentel et al., 2024). Para isso, é essencial desenvolver metodologias participativas que contemplem o contexto dos estudantes, promovam interações síncronas e assíncronas contextualizadas, e valorizem a participação ativa e crítica dos aprendizes.

Fica então a proposta de avançarmos no entendimento conceitual em que a educação híbrida, é concebida como um ecossistema educativo, e representa uma resposta integrada e inovadora às demandas contemporâneas da educação em um mundo altamente digitalizado e interconectado. Sua prática educativa evolui do protagonismo do estudante em metodologias ativas para a construção coletiva, crítica e participativa do conhecimento. Este modelo educacional abre caminhos para uma educação mais inclusiva, flexível e socialmente comprometida, alinhada aos princípios da cultura digital e da cidadania ativa.

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Algumas referências, para aprofundamento:

ARAÚJO, J. C. S. Da Metodologia Ativa à Metodologia Participativa. In: VEIGA, I. P. A. (Org.) Metodologia Participativa e as Técnicas de Ensino-aprendizagem. Curitiba: CRV 2017. p. 17-54.

BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Resolução CNE/CEB nº 2, de 13 de novembro de 2024. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio – DCNEM. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, 14 nov. 2024. Disponível em: https://abmes.org.br/legislacoes/detalhe/4968/resolucao-cne-ceb-n-2 . Acesso em: 10 abr. 2025.

CASTELLS, M. A galáxia da internet: reflexões sobre a Internet, os negócios e a sociedade. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.

FERREIRA, L. F. S.; PIMENTEL, F. S. C. FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA INCORPORAÇÃO DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS NA EDUCAÇÃO SUPERIOR. Cadernos de Pesquisa, v. 30, n. 2, p. 303–321, 30 Jun 2023 Disponível em: https://periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/cadernosdepesquisa/article/view/1706. Acesso em: 7 nov 2025.

GRAHAM, C. Blended learning systems: definition, current trends, and future directions. In C. J. Bonk & C. R.Graham (ORG.). The handbook of blended learning: global perspectives, local designs. San Francisco: John Wiley & Sons, Inc, p.136-149, 2006

HORN, M. B.; STAKER, H. Blended: Using Disruptive Innovation to Improve Schools. San Francisco, CA: Jossey-Bass, 2015.

LIMA, D. C. B. P. Educação Híbrida em Contexto com a RIEH: Conceito e Orientações Pedagógicas. Maceió: Edufal, 2024.

PIMENTEL, F. S. C.; RITA, L. P. S.; PINTO, I. M. B. S.; JUNIOR, N. B. dos S.; AMARO, M. J. R. Educação Híbrida na formação de gestores: uma visão experiencial dos impactos e desafios. EmRede - Revista de Educação a Distância, [S. l.], v. 11, 2024. DOI: 10.53628/emrede.v11i.1080. Disponível em: https://www.aunirede.org.br/revista/index.php/emrede/article/view/1080. Acesso em: 7 nov. 2025.

SIEMENS, George. Elearnspace. Connectivism: A learning theory for the digital age. Elearnspace. org, p. 14-16, 2004. Disponível em: https://citeseerx.ist.psu.edu/document?repid=arep1&type=pdf&doi=f87c61b964e32786e06c969fd24f5a7d9426f3b4 Acesso em: 7 nov 2025.


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