2013/03/21 · by · in Blog - http://artes.ucp.pt/artesdigitais/?p=551
(Petite Poucette de Michel Serres, edição Le Pommier, 2012, 85 páginas. Fotografia de Eric Garault)
O mais recente ensaio de Michel Serres propõe uma renovada postura pedagógica perante o surgimento de uma nova geração de estudantes, as polegarzinhas.
O mais recente ensaio de Michel Serres propõe uma renovada postura pedagógica perante o surgimento de uma nova geração de estudantes, as polegarzinhas.
Filha da Internet e do telefone portátil inteligente (smartphone), a polegarzinha – alcunha que Michel Serres atribuí à geração dos adolescentes – vive num mundo completamente diferente do que conheceram os seus pais e avôs. A polegarzinha – um piscar de olho à maestria com que os jovens escrevem SMS com os seus polegares – é uma população que nasceu nos anos 1985 a 1995, e cresceu com a propagação das novas tecnologias. Segundo Serres, os pais da polegarzinha (os papas ronchon) trabalham “com” as novas tecnologias – o que implica uma certa exterioridade (“não somos obrigados a conhecer o que se passa dentro da máquina”), e por conseguinte têm todos uma “cabeça exteriorizada”. Este, explica que, trabalhar “com” alguma coisa é estar fora dessa mesma coisa. A geração seguinte, a das polegarzinhas, vive num mundo implicado pelas novas tecnologias, não vive “com” as novas tecnologias, mas sim “dentro” delas. E é esse mundo que os avôs e pais da polegarzinha não entendem.
Neste pequeno ensaio, Michel Serres discute o surgimento de uma nova era – a da revolução digital. Para Serres nada pode ficar como dantes, tudo se alterou e se alterará, nomeadamente a relação pedagógica. Daí a pergunta: “Será que a revolução digital veio alterar a forma como ensinamos?” Digamos que já a alterou: a pedagogia modificou-se completamente com as novas tecnologias (ajustou-se, tenta adaptar-se, mas a grande custo). A páginas tantas, o autor propõe o seguinte raciocínio: “Antigamente (anos 1960-1980), quando eu entrava no meu auditório, o conteúdo da aula era relativamente desconhecido para os meus alunos. Estávamos na era da “presunção de incompetência”. Hoje em dia, qual a probabilidade e quantos alunos visitaram ou investigaram na Internet e na véspera de uma aula os conceitos que irei leccionar no dia seguinte? Estamos perante uma “presunção de competência”.” Atualmente, os alunos pesquisam na Internet tudo e mais alguma coisa (“o saber está na Wikipédia. Eu sei, porque clico”) e é por isso que a relação pedagógica é cada vez mais assimétrica. Já não basta ao professor lançar sobre os seus alunos uma resma de conceitos e de conhecimentos decorados (ou sabidos), porque antes que o professor tome a palavra o aluno já adquiriu um certo número de informações. “É preciso saber ouvir os estudantes” diz-nos Serres, é preciso “saber o que eles sabem [...], escutar a novidade para a compreender”, para compreender o mundo onde os nossos alunos habitam. Uma vez percebida e assimilada essa “novidade”, podemos adaptar o nosso ensino. Para podermos julgar as novas tecnologias é preciso sair do mundo anterior e “entrar” literalmente neste novo mundo do digital, do instantâneo, do efêmero e do virtual.
A relação ao saber alterou-se profundamente, diz-nos Michel Serres. A relação pedagógica e cognitiva também. De facto as novas gerações criam comunidades que nunca teríamos imaginado antes. Para explicar como adaptar-se a esta nova realidade, Serres propõe que pensemos sobre o conceito de autoridade. Do ponto de vista do ensino, a palavra “autoridade” torna-se fundamental. Autoridade vem do latim “augere”, que significa fazer crescer, aumentar…, consequentemente, quem tem autoridade é aquele que aumenta qualquer coisa. Daí que, hoje, para ter autoridade num auditório ou numa sala de aula é preciso “aumentar” o saber (presunção de competência), fazendo funcionar o que diferencia um professor de um aluno, isto é, a “novidade, a inovação, a experiência e a inteligência”, palavras de Serres.
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