Estamos iniciando hoje a Semana Santa. Pensando em cada um, e no desejo de que todos nós possa vivenciar esta semana santa com uma verdadeira piedade cristã, trago logo abaixo o sentido de cada dia do Tríduo Santo.
Os textos são do Côn. Henrique Soares, que sempre nos ajuda a estar mais pertinho de Deus, com suas orações e seu testemunho...
Lembremos que não tem sentido se as nossas ações celebrativas não culminam com a ajuda efetiva a quem mais precisa de nós.
Cruz de Cristo, cruz do mundo![1]
Estamos entrando na Semana Santa, que os nossos antepassados denominavam “a Grande Semana”. Está próxima a Páscoa. O que celebraremos mesmo? Jesus, o Filho de Deus humanizado que, passando pelo vale da morte, saiu deste mundo e passou (fez a Passagem, a Páscoa) para o Pai. Este caminho do Senhor Jesus não é um fato particular entre tantos fatos deste nosso mundo; é, ao invés, o fato, o caminho fundamental, que dá sentido à história e à vida do homem neste mundo. A morte e ressurreição de Jesus são a chave para compreender a realidade humana. Vejamos um pouco.
O que celebramos na Sexta-Feira Santa? Um homem, o justo e santo Filho de Deus macerado na cruz. Toda maldade humana, todo absurdo do mundo, toda treva e falta de sentido caem sobre ele. Na cruz, no Justo crucificado ante o silêncio de Deus, que nada faz para salvá-lo, aparece toda a dor e todo drama do mundo. Por que tanta dor e injustiça no mundo? Por que a guerra? Por que o mal corre solto, feito louco, e o bem parece tão impotente? E Deus, por que permite? Por que se cala? Será que não vê? Será que não tem coração? Será que não existe? Na cruz de Cristo, portanto, está simbolizado todo o drama do mal do mundo... mal sem explicação, mal que desmoraliza, mal que nos faz sofrer tanto... e nos faz perguntar: por quê?
O mesmo vale para o Sábado Santo: o Justo, morto, entrou no estado de aniquilamento total: Jesus “desceu” à morte, àquela situação de nadificação, de aniquilamento, ao reino da total passividade: “Não é o Sheol que te louva, Senhor, nem a morte que te glorifica, pois já não esperam em tua fidelidade aqueles que descem à cova. Os vivos, só os vivos é que te louvam...” (Is 38,18s). O Sábado Santo celebra este mistério tremendo, incompreensível, impenetrável: o Filho de Deus, o homem Jesus, entrou na morte, com tudo que ela tem de dramático, de amedrontador, de amargo: ele experimentou a nossa “morte de pecado”. Deus não o salvou e ele desceu à morada dos mortos... Sábado Santo: silêncio de Cristo, silêncio de Deus, silêncio triste e amargurado no coração do homem, que se sente sozinho, incapaz, abandonado, diante do mal do mundo, diante da morte, diante do nada...
Mas, após o Sábado, o Domingo: Deus, o Pai, que se calou na Sexta, que parecia ausente no Sábado, agora toma a palavra: derrama sobre seu Filho entregue e abandonado toda a potência vivificante do Espírito Santo. O Filho é arrancado da morte, o “Filho-feito-homem” entra na glória e na plenitude do Pai, pleno do Espírito Santo! Aquele que parecia derrotado, abandonado por Deus, agora é Senhor e Cristo, Senhor do universo, Senhor da história, sentido e esperança de todas as coisas! O Pai julgou o pecado do mundo: ao ressuscitar o Filho Jesus, o Pai desmascara o pecado, o Pai deixa claro que não é conivente com a maldade, que não é um Deus omisso e que julgará o mundo: “Agiu com a força do seu braço, dispersou os homens de coração orgulhoso. Depôs poderosos de seus tronos e a humildes exaltou. Cumulou de bens a famintos e despediu ricos de mãos vazias” (Lc 1,51-53): se ele se calou na Sexta e no Sábado, no Domingo revelou toda a sua glória e toda a sua justiça, ressuscitando Jesus e dele fazendo cabeça da nova criação e início de uma humanidade ressuscitada, de um mundo novo!
Para que compreendamos bem este mistério tremendo, pensemos na crise do Oriente Médio. A prepotência dos Governo israelense, o desespero dos palestinos, o fanatismo dos fundamentalistas islâmicos, a dor de tantos israelenses e palestinos: crianças mutiladas, mulheres chorando, famílias destruídas... Onde está Deus? Por que se cala? Por que parece não ver, não se importar? Para nós, cristãos, Cristo assumiu toda esta dor: Deus não vê o nosso sofrimento de longe, ele o toma sobre si, na dor do seu Filho amado: em Cristo, Deus sofreu e chorou e morreu como nós! O sofrimento no mundo tem sua raiz última no mistério do pecado, o mesmo que levou Jesus à morte. Deus respeita a nossa liberdade, mesmo quando isso lhe corta o coração – como cortou seu coração a cruz de Jesus! Mas, nós cremos firmemente que Deus julgará a história, glorificará e exaltará os humilhados do mundo e fará justiça aos pobres pisados da terra. Mas, atenção: somente na fé nós podemos compreender isso! Podemos saber pela história que Jesus morreu e foi sepultado mas, somente na fé podemos ter a certeza que ele ressuscitou. O túmulo vazio, as aparições aos apóstolos, a conversão deles, tudo isso indica que a ressurreição é verídica. Mas, nada disso é prova definitiva! Será sempre necessário o salto da fé! Assim também na nossa vida, na vida do Oriente Médio: vemos e experimentamos, desolados, o mal, a dor, o sofrimento. A tentação é ficarmos amargurados e desesperados. Mas, olhamos o Cristo, morto e ressuscitado: ele venceu, para além do desespero e da morte, ele é o Senhor da vida! Nele, também o mundo e a história encontrarão seu sentido último. O que vemos com os olhos, muitas vezes nos apavora e entristece, o que sabemos e esperamos pela fé, enche-nos de certeza e de alegria!
Vamos celebrar a Páscoa! Ela não é uma simples recordação! Celebrando-a, entramos em contato com a própria vitória de Cristo e enchemos a nossa vida de esperança. A Páscoa não é teoria, não é crença morta! Ela é a experiência que dá sentido à história do mundo e à nossa história. No Crucificado que ressuscitou, sabemos que toda dor e tristeza humanas estão redimidas!
Uma piedosa Semana Santa! Uma feliz Páscoa!
[1] Côn. Henrique Soares da Costa – www.padrehenrique.com
Cruz de Cristo, cruz do mundo![1]
Estamos entrando na Semana Santa, que os nossos antepassados denominavam “a Grande Semana”. Está próxima a Páscoa. O que celebraremos mesmo? Jesus, o Filho de Deus humanizado que, passando pelo vale da morte, saiu deste mundo e passou (fez a Passagem, a Páscoa) para o Pai. Este caminho do Senhor Jesus não é um fato particular entre tantos fatos deste nosso mundo; é, ao invés, o fato, o caminho fundamental, que dá sentido à história e à vida do homem neste mundo. A morte e ressurreição de Jesus são a chave para compreender a realidade humana. Vejamos um pouco.
O que celebramos na Sexta-Feira Santa? Um homem, o justo e santo Filho de Deus macerado na cruz. Toda maldade humana, todo absurdo do mundo, toda treva e falta de sentido caem sobre ele. Na cruz, no Justo crucificado ante o silêncio de Deus, que nada faz para salvá-lo, aparece toda a dor e todo drama do mundo. Por que tanta dor e injustiça no mundo? Por que a guerra? Por que o mal corre solto, feito louco, e o bem parece tão impotente? E Deus, por que permite? Por que se cala? Será que não vê? Será que não tem coração? Será que não existe? Na cruz de Cristo, portanto, está simbolizado todo o drama do mal do mundo... mal sem explicação, mal que desmoraliza, mal que nos faz sofrer tanto... e nos faz perguntar: por quê?
O mesmo vale para o Sábado Santo: o Justo, morto, entrou no estado de aniquilamento total: Jesus “desceu” à morte, àquela situação de nadificação, de aniquilamento, ao reino da total passividade: “Não é o Sheol que te louva, Senhor, nem a morte que te glorifica, pois já não esperam em tua fidelidade aqueles que descem à cova. Os vivos, só os vivos é que te louvam...” (Is 38,18s). O Sábado Santo celebra este mistério tremendo, incompreensível, impenetrável: o Filho de Deus, o homem Jesus, entrou na morte, com tudo que ela tem de dramático, de amedrontador, de amargo: ele experimentou a nossa “morte de pecado”. Deus não o salvou e ele desceu à morada dos mortos... Sábado Santo: silêncio de Cristo, silêncio de Deus, silêncio triste e amargurado no coração do homem, que se sente sozinho, incapaz, abandonado, diante do mal do mundo, diante da morte, diante do nada...
Mas, após o Sábado, o Domingo: Deus, o Pai, que se calou na Sexta, que parecia ausente no Sábado, agora toma a palavra: derrama sobre seu Filho entregue e abandonado toda a potência vivificante do Espírito Santo. O Filho é arrancado da morte, o “Filho-feito-homem” entra na glória e na plenitude do Pai, pleno do Espírito Santo! Aquele que parecia derrotado, abandonado por Deus, agora é Senhor e Cristo, Senhor do universo, Senhor da história, sentido e esperança de todas as coisas! O Pai julgou o pecado do mundo: ao ressuscitar o Filho Jesus, o Pai desmascara o pecado, o Pai deixa claro que não é conivente com a maldade, que não é um Deus omisso e que julgará o mundo: “Agiu com a força do seu braço, dispersou os homens de coração orgulhoso. Depôs poderosos de seus tronos e a humildes exaltou. Cumulou de bens a famintos e despediu ricos de mãos vazias” (Lc 1,51-53): se ele se calou na Sexta e no Sábado, no Domingo revelou toda a sua glória e toda a sua justiça, ressuscitando Jesus e dele fazendo cabeça da nova criação e início de uma humanidade ressuscitada, de um mundo novo!
Para que compreendamos bem este mistério tremendo, pensemos na crise do Oriente Médio. A prepotência dos Governo israelense, o desespero dos palestinos, o fanatismo dos fundamentalistas islâmicos, a dor de tantos israelenses e palestinos: crianças mutiladas, mulheres chorando, famílias destruídas... Onde está Deus? Por que se cala? Por que parece não ver, não se importar? Para nós, cristãos, Cristo assumiu toda esta dor: Deus não vê o nosso sofrimento de longe, ele o toma sobre si, na dor do seu Filho amado: em Cristo, Deus sofreu e chorou e morreu como nós! O sofrimento no mundo tem sua raiz última no mistério do pecado, o mesmo que levou Jesus à morte. Deus respeita a nossa liberdade, mesmo quando isso lhe corta o coração – como cortou seu coração a cruz de Jesus! Mas, nós cremos firmemente que Deus julgará a história, glorificará e exaltará os humilhados do mundo e fará justiça aos pobres pisados da terra. Mas, atenção: somente na fé nós podemos compreender isso! Podemos saber pela história que Jesus morreu e foi sepultado mas, somente na fé podemos ter a certeza que ele ressuscitou. O túmulo vazio, as aparições aos apóstolos, a conversão deles, tudo isso indica que a ressurreição é verídica. Mas, nada disso é prova definitiva! Será sempre necessário o salto da fé! Assim também na nossa vida, na vida do Oriente Médio: vemos e experimentamos, desolados, o mal, a dor, o sofrimento. A tentação é ficarmos amargurados e desesperados. Mas, olhamos o Cristo, morto e ressuscitado: ele venceu, para além do desespero e da morte, ele é o Senhor da vida! Nele, também o mundo e a história encontrarão seu sentido último. O que vemos com os olhos, muitas vezes nos apavora e entristece, o que sabemos e esperamos pela fé, enche-nos de certeza e de alegria!
Vamos celebrar a Páscoa! Ela não é uma simples recordação! Celebrando-a, entramos em contato com a própria vitória de Cristo e enchemos a nossa vida de esperança. A Páscoa não é teoria, não é crença morta! Ela é a experiência que dá sentido à história do mundo e à nossa história. No Crucificado que ressuscitou, sabemos que toda dor e tristeza humanas estão redimidas!
Uma piedosa Semana Santa! Uma feliz Páscoa!
[1] Côn. Henrique Soares da Costa – www.padrehenrique.com
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