quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Lançamento da plataforma Escola Digital

Disponível em: http://porvir.org/blog/lancamento-da-plataforma-escola-digital/20131210

Inspirare e o Instituto Natura lançaram nesta terça-feira (10), a plataformaEscola Digital, um buscador aberto e gratuito de recursos digitais pedagógicos. No portal, já é possível encontrar mais de 1,5 mil recursos virtuais, como vídeos, áudios, games, livros digitais, aplicativos, infográficos e outras ferramentas que podem ser utilizadas, a favor do aprendizado, por educadores e estudantes de todo o país.
Durante o evento oficial de lançamento, realizado em São Paulo, mais de 70 convidados puderam conferir, em primeira mão, todas as funcionalidades da plataforma que já conta com mais de 1600 objetos digitais. A construção do portal contou com a parceria do Instituto EducaDigital, do TIC Educa e daSEE-SP (Secretaria de Estado de Educação de São Paulo), que ajudaram no mapeamento das ferramentas já existentes na rede.
crédito Marcos Suguio

“A plataforma representa uma enorme possibilidade de aproximar o mundo da escola do mundo digital onde se encontram os nossos filhos. Hoje, os ODAs [Objetos Digitais de Aprendizagem] estão espalhados na internet. Com a Escola Digital, buscamos agrupá-los no mesmo ambiente para incentivarmos ainda mais o seu uso pelo aluno e pelo professor”, afirma a diretora do Inspirare Anna Penido. Segundo ela, um dos principais objetivos da plataforma é facilitar o uso dos objetos como estratégias complementares ao ensino.
“Com o mapeamento, fica mais fácil para os professores articularem os recursos digitais com os currículos escolares. Ele acaba se tornando umdesigner do currículo”, diz Anna. O trabalho de curadoria feito na construção da plataforma também é destacado por Françoise Trapenard, presidente da Fundação Telefônica. “Organizar a oferta é o primeiro passo para qualificar a demanda”, diz Françoise, mencionando o trabalho de seleção e disponibilização dos conteúdos.
Mapeamento
Para colaborar com o mapeamento dos recursos presentes na plataforma, foram convidados professores da rede pública. Cerca de 50 docentes vinculados à secretaria estadual de São Paulo garimparam grande parte das ferramentas. Eles também participaram da fase inicial de testes da plataforma, realizados há três meses. “Conhecemos a ideia do Escola digital em julho e em setembro começamos a concretizar a parceria. Nos aliamos ao projeto porque ele faz todo o sentido ao próprio caminho que a secretaria está construindo”, afirma Olavo Nogueira Filho, coordenador do programa Novas Tecnologias, Novas Possibilidades, que será lançado em janeiro pela SEE-SP.
Com o anúncio oficial do programa da secretaria estadual, que prevê a criação de uma plataforma nos moldes da Escola Digital, Nogueira espera utilizar todo o material já curado pelos professores da rede para ser disponibilizado no novo portal da SEE. “A ideia é customizarmos a Escola Digital de forma a contemplar 100% do currículo de São Paulo, criado desde 2007”, explica Nogueira.
A adaptação do conteúdo do Escola Digital será possível não apenas para a SEE-SP, como para qualquer secretaria ou até mesmo para o usuário, inclusive os pais de alunos interessados no acompanhamento das atividades escolares dos filhos. “Nosso desafio agora é com a próxima atualização, a ser feita no segundo semestre de 2014, criar mecanismos para a customização dos ODAs. Tudo isso para que alunos, pais e professores escolham seus objetos preferidos”, diz Anna, do Inspirare.
Enquanto a segunda versão ainda está sendo desenvolvida, o grande desafio da plataforma é chegar até os usuários. Uma das estratégias utilizadas é a aproximação das redes de ensino públicas brasileiras. “Nosso plano é oferecer a plataforma para as secretarias estaduais, por meio do Consed[Conselho Nacional de Secretários de Educação]. Em março, faremos uma reunião [com a entidade] e apresentaremos a plataforma. Mas de antemão, o secretário do Pará [Cláudio Ribeiro] já demonstrou interesse no uso da Escola Digital”, afirma Pedro Villares, presidente do Instituto Natura.
crédito Marcos Suguio

Professores
Convidada para o evento, a professora coordenadora do núcleo pedagógico de Geografia da SEE, Dulcinéia Ramos, explicou como se deveria utilizar os ODAs no cotidiano escolar. “Eles podem ser um diferencial quando utilizados para atingir os objetivos traçados pelo plano de aula. É importante, no entanto, que os professores acessem antes o recurso que ele pretende utilizar na turma e explique aos alunos o motivo pelo qual eles optaram por determinado objeto”, fala Dulcinéia.
Já outra palestrante do encontro, a professora de informática da rede municipal de São Paulo, Gislanie Batista, sugere que a aproximação com os objetos virtuais seja feita de forma gradual. “Os professores ainda não conseguem planejar a aula pensando no recurso. Eles têm dificuldade para contextualizá-lo em sua disciplina. Por isso, é preciso que os professores comecem aos poucos. Mas ainda assim, é preciso pesquisar e planejar antes da aula”, afirma.
Gislanie não deixa de destacar a “importância” dos professores se aproximarem mais do “mundo dos jovens”, imersos nas redes sociais e mais próximos da tecnologia. Essa ideia dos alunos já terem “nascido com a tecnologia”, também é defendida pela coordenadora de tecnologia educacional do Colégio Bandeirantes Cristiana Mattos. Durante o evento, ela destacou algumas das principais tendências em inovações educacionais. O uso de simuladores, de laboratórios virtuais, de realidade aumentada e o aprendizado com a utilização mais intensa das redes sociais foram algumas das ideias defendidas por ela.
“Nas redes colaborativas, os próprios alunos já criam seus grupos de estudos. Ela é apenas um exemplo que mostra que os estudantes de hoje querem criar seus próprios caminhos. E isso, a tecnologia já permite. Com a ideia da customização da plataforma e a possibilidade de ter acesso a ferramentas que permitem a criação de outros recursos digitais, os alunos se tornam mais protagonistas”, afirma Cristiana, uma das participantes na elaboração do relatório de tendências tecnológicas na educação Horizon Report, em sua versão brasileira.
crédito Marcos Suguio

Buscas
Funcionando como um buscador de recursos digitais já existentes criados por produtores de conteúdo, o grande diferencial da plataforma é oferecer, de forma mais intuitiva, a busca pelos recursos que podem ser utilizados como ferramenta pedagógica. Assim, o professor interessado em um objeto digital específico, para ser utilizado em sua aula ou para propor como tarefa de casa aos seus alunos, pode encontrar no portal a ferramenta mais adequada. Todos os objetos presentes no Escola Digital foram categorizados por disciplina, série, temas curriculares e também pelo tipo de mídia.
Já na busca mais refinada, é possível selecionar os recursos por outras categorizações. Assim, o usuário consegue filtrar os objetos por sua licença de uso – do copyright às diferentes combinações de liberdade para uso, compartilhamento e alteração –, e também por idiomas, ou seja, além de materiais em português, ele pode encontrar objetos em outras línguas, como inglês e espanhol. E mais: caso prefira, ainda poderá buscar conteúdos pela sua disponibilidade (on-line ou offline) ou se ele é gratuito ou pago.
A plataforma permite também, além do acesso organizado aos recursos, que empreendedores e investidores possam olhar para oportunidades de desenvolvimento a partir da utilização da plataforma, por meio da opção de visualização geral. Nela, por meio de gráficos, é possível verificar onde estão os gaps de conteúdos, quais anos e disciplinas ainda não apresentam muitas opções.

domingo, 15 de dezembro de 2013

A polegarzinha de Michel Serres e o ensino no mundo de amanhã

2013/03/21 · by Carlos Sena Caires · in  - http://artes.ucp.pt/artesdigitais/?p=551

MichelSerres
(Petite Poucette de Michel Serres, edição Le Pommier, 2012, 85 páginas. Fotografia de Eric Garault)
O mais recente ensaio de Michel Serres propõe uma renovada postura pedagógica perante o surgimento de uma nova geração de estudantes, as polegarzinhas.
O mais recente ensaio de Michel Serres propõe uma renovada postura pedagógica perante o surgimento de uma nova geração de estudantes, as polegarzinhas.
Filha da Internet e do telefone portátil inteligente (smartphone), a polegarzinha – alcunha que Michel Serres atribuí à geração dos adolescentes – vive num mundo completamente diferente do que conheceram os seus pais e avôs. A polegarzinha – um piscar de olho à maestria com que os jovens escrevem SMS com os seus polegares – é uma população que nasceu nos anos 1985 a 1995, e cresceu com a propagação das novas tecnologias. Segundo Serres, os pais da polegarzinha (os papas ronchon) trabalham “com” as novas tecnologias – o que implica uma certa exterioridade (“não somos obrigados a conhecer o que se passa dentro da máquina”), e por conseguinte têm todos uma “cabeça exteriorizada”. Este, explica que, trabalhar “com” alguma coisa é estar fora dessa mesma coisa. A geração seguinte, a das polegarzinhas, vive num mundo implicado pelas novas tecnologias, não vive “com” as novas tecnologias, mas sim “dentro” delas. E é esse mundo que os avôs e pais da polegarzinha não entendem.
Neste pequeno ensaio, Michel Serres discute o surgimento de uma nova era – a da revolução digital. Para Serres nada pode ficar como dantes, tudo se alterou e se alterará, nomeadamente a relação pedagógica. Daí a pergunta: “Será que a revolução digital veio alterar a forma como ensinamos?” Digamos que já a alterou: a pedagogia modificou-se completamente com as novas tecnologias (ajustou-se, tenta adaptar-se, mas a grande custo). A páginas tantas, o autor propõe o seguinte raciocínio: “Antigamente (anos 1960-1980), quando eu entrava no meu auditório, o conteúdo da aula era relativamente desconhecido para os meus alunos. Estávamos na era da “presunção de incompetência”. Hoje em dia, qual a probabilidade e quantos alunos visitaram ou investigaram na Internet e na véspera de uma aula os conceitos que irei leccionar no dia seguinte? Estamos perante uma “presunção de competência”.” Atualmente, os alunos pesquisam na Internet tudo e mais alguma coisa (“o saber está na Wikipédia. Eu sei, porque clico”) e é por isso que a relação pedagógica é cada vez mais assimétrica.  Já não basta ao professor lançar sobre os seus alunos uma resma de conceitos e de conhecimentos decorados (ou sabidos), porque antes que o professor tome a palavra o aluno já adquiriu um certo número de informações. “É preciso saber ouvir os estudantes” diz-nos Serres, é preciso “saber o que eles sabem [...], escutar a novidade para a compreender”, para compreender o mundo onde os nossos alunos habitam. Uma vez percebida e assimilada essa “novidade”, podemos adaptar o nosso ensino. Para podermos julgar as novas tecnologias é preciso sair do mundo anterior e “entrar” literalmente neste novo mundo do digital, do instantâneo, do efêmero e do virtual.
A relação ao saber alterou-se profundamente, diz-nos Michel Serres. A relação pedagógica e cognitiva também. De facto as novas gerações criam comunidades que nunca teríamos imaginado antes. Para explicar como adaptar-se a esta nova realidade, Serres propõe que pensemos sobre o conceito de autoridade. Do ponto de vista do ensino, a palavra “autoridade” torna-se fundamental. Autoridade vem do latim “augere”, que significa fazer crescer, aumentar…, consequentemente, quem tem autoridade é aquele que aumenta qualquer coisa. Daí que, hoje, para ter autoridade num auditório ou numa sala de aula é preciso “aumentar” o saber (presunção de competência), fazendo funcionar o que diferencia um professor de um aluno, isto é, a “novidade, a inovação, a experiência e a inteligência”, palavras de Serres.