Não pretendo aqui fazer referências as obras de Nelson Rodrigues, como poderia o leitor deste blog pensar ao ler o título deste post. Meu intento é o de justamente levantar algumas questões sobre o nosso “modelo” social, partindo de algumas reflexões de Bauman (Modernidade Líquida), num resumo de Tfouni e Nilce da Silva.
Sem querer me deter a uma ordem pré-estabelecida ou num esquema organizado, levanto aqui alguns pontos a serem refletidos: (as frases em destaque são do artigo A modernidade líquida: o sujeito e a interface com o fantasma. Disponível na Revista Mal-estar e Subjetividade – Fortaleza – Vol. VI – Nº 1 – p. 171-194 – mar/2008)
(...) paradoxalmente, quanto mais o desejo social é o de um preenchimento, mais o sujeito sente o mal-estar do vazio, um vazio que para nós é constitutivo do sujeito e seu desejo. – Se a questão é o vazio nos deparamos com a seguinte questão: que rumos tomou a filosofia para poder responder a esta vazio? Que caminhos percorreu a religião para resolver este “buraco”? Será apenas um problema cultural?
A modernidade líquida, assim, é tempo do desapego, provisoriedade e do processo da individualização; tempo de liberdade ao mesmo tempo em que é o da insegurança. E aqui lembro de uma situação – no mínimo – curiosa: Já percebeu a quantidade de e-mail que recebemos com mensagens pps com temáticas saudosistas? Já percebeu como aqueles que estão na faixa etária dos 30 anos acima comentam tanto sobre como era "no nosso tempo"? Chegamos a um ponto da realidade que tudo parece ser (como diz Bauman) líquido, para não dizer efêmero ou volátil. Até mesmo na questão das TIC. Já pensou na quantidade de espaço virtual (e físico) que precisaríamos se guardássemos todos os e-mail que recebemos, como tínhamos o costume de guardar as cartas que nos eram remetidas?...
(...) como todos estão sem tempo, e preocupados com inúmeras atividades assumidas, poucos são aqueles que têm tempo e disponibilidade para dar o ombro amigo para o próximo; o vizinho é um desconhecido. – Aqui apresento um dado bem significativo desta realidade: já percebeu como há pouca interação nas atividades postadas em ambientes virtuais de aprendizagem (o tutor sempre tem que estimular os alunos). Não vou nem falar da ouça interação nos blogs. Lemos, navegamos de um blog para outro, bisbilhotamos no melhor estilo Big Brother, mas não deixamos nossa opinião, nossa aprovação ou reprovação diante de um tema exposto, diante de um post (e com certeza isso se dará mais uma vez neste post).
Cada vez mais cedo, nossos adolescente entram neste padrão social. Inconscientemente seduzidos pela mídia, incorporam um conceito que representa a postulação de Bauman: a descartabilidade é característica dos seres humanos e das relações que estabelecem, obedecendo à máxima da sociedade em que estamos inseridos: o consumir. – O FICAR é um exemplo claro disso que aqui escrevemos.
A tecnologia está a favor do desinteresse para com o próximo: Para os “indesejados”, oferece-se toda espécie de resposta vinda de um aparelho eletrônico. Estas máquinas, portanto, colaboram para que o descompromisso entre as pessoas seja uma norma: assim, a secretária eletrônica ligada, o correio eletrônico “que não funciona bem”, o “computador que pegou vírus”, a caixa postal do celular são barreiras colocadas entre nós e aqueles que não queremos atender. – Solidariedade, compaixão e zelo para com o outro também se tornam, nesta sociedade líquida, virtudes ou qualidades efêmeras ou voláteis – durando apenas um tempo mínimo.
(Continuaremos a refletir... aguarde!)